Um Mau dia para a Carris:
Foto retirada da internete |
Em futuro texto que publicarei neste espaço, está explicada a minha posição.
A passagem da Carris para a CML é só mais um “business as usual”
neo-liberal. Na CML, ao longo de mais quarenta anos, as “batalhas” permanentes
que a Carris travou para obter corredores reservados e poder aumentar a
velocidade comercial, eram e são ainda hoje, enormes, além de se saber o que
tem sido a política de estacionamento e circulação ao Transporte Individual, na
lógica da especulação imobiliária, aquela preferência reverteu sempre no
investimento e respectivo financiamento ao Transporte Individual.
Não foi só a construção dum eixo Norte<>Sul ou dos
parques de estacionamento no centro da cidade (ex: parques de estacionamento no
Martim Moniz e na Praça da Figueira, e hoje no Campo das Cebolas) ou do
alargamento dos eixos rodoviários (ex: Avenida João Crisóstomo), também, foram
as políticas de urbanização e de gestão do espaço público, como é o caso
recente do PUA (Plano de Urbanização de Alcântara) contestado por
centenas de moradores e em sessões de debate técnico em que ficou demonstrada
as contradições das propostas de acessibilidade e de ordenamento urbano que a
CML vai executar quando dá prioridade ao TI e na apropriação do espaço para
negociar com os privados (ex: Hospital da CUF), ignorando soluções sustentáveis
de transporte colectvo. Alcântara XXI será por certo o próximo passo da
anexação dos terrenos de Santo Amaro, até onde se prevê uma ligação rodoviária
entre a Rua Luis de Camões e a Avenida da Índia.
O TP e, em particular, o Transporte Colectivo tem sido
desfavorecido por más políticas de transporte conduzidas quer ao nível da
administração central quer ao nível local. Quando hoje se tem no discurso
oficial que é preciso descarbonizar a sociedade e se tem doutro lado, dar
cobertura aos “UBER” e “LIFTY” (transporte a pedido), ou seja, reconhecer que a
excepção não confirma a regra – descarbonizar e colocar mais tráfego rodoviário
na cidade???
Há, pois, um discurso oficial e oficioso e é pena que a CT não
tenha sabido ter essa discussão com os trabalhadores da Carris, deixando-os
vulneráveis a decisões públicas sem qualquer controlo democrático, de cidadania
e de ecologia.
Ignorar a hipótese da Carris ser, juntamente com a CP suburbano,
o Metropolitano e a Transtejo/Soflusa, um Operador Interno, seguindo
um modelo europeu com provas dadas, como a RATP, é mesmo ignorar a função e a
responsabilidade estratégica coerente e integradora que tal Operador deve
assumir no contexto actual. Não é só a questão de sustentabilidade da
mobilidade da população, é muito mais que isso, é a criação de emprego
qualificado e reverter uma política que tem sido de destruição destas empresas,
pela venda de material circulante, de redução do serviço de oferta, da falta de
conhecimento de como se deve planear e organizar uma rede de transporte colectivo
e de ignorar os seus quadros técnicos, desequilibrando financeiramente todas
estas empresas. A hipótese de Operador Interno é um desafio Estratégico
e Operacional mas, é o único que oferece garantias a ter-se dum lado uma AOTU
(Autoridade Organizadora do Transporte Urbano) como a AML e doutro um Operador
Interno que saiba comportar-se à altura dos desafios da mobilidade
sustentável através da afirmação dum Contrato Público. Mas, isso obrigará a uma
reforma profunda do sector, em particular, reverter estruturas técnicas ao
nível do Ministério responsável pela área do Transporte Público urbano e a um
Transport Act, coisa que hoje nem sequer é discutida – ver texto em anexo.
Como tal, hoje é um mau dia para a Carris. Uns recusam-se
a ver o que está errado e outros preferem meter a cabeça de baixo do chão, como
a avestruz. Como diz o Povo, “o pior cego, é aquele que não quer ver”. Criar um
Operador Interno pode dar muito trabalho mas, é para isso que cá
estamos. Com os meus 40 anos de Carris, lamento que essa não tenha sido a opção
e depois de ter estado na semana passada em Strasbourg, numa conferência sobre
“Eficácia de Redes de Transporte Urbano”, onde por sinal a CTS (Companhia de
Transporte de Strasbourg” é da Comunidade Urbana enquanto Operador Interno
estar em breve a inaugurar uma nova linha de eléctrico, esta com a
particularidade de ser transfronteiriça (ligando Strasbourg a Kehl) e ver a
prática de tarifa social única a ser aplicada com quociente familiar, só posso
confirmar que em Portugal, a política neo-liberal de urbanismo e transporte
está para ser combatida.
Carlos Gaivoto
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