segunda-feira, 21 de novembro de 2016




Um Mau dia para a Carris:


Foto retirada da internete
A passagem da Carris para a CML tem dois significados, aos quais não é alheio o conteúdo do discurso oficial e oficioso da ideologia neo-liberal, no primeiro caso, quando se diz que se retorna à casa-mãe e no segundo caso quando se pretende iludir a garantia de que já não há o perigo da concessão a privados. Dois enganos.

Em futuro texto que publicarei neste espaço, está explicada a minha posição.

A passagem da Carris para a CML é só mais um “business as usual” neo-liberal. Na CML, ao longo de mais quarenta anos, as “batalhas” permanentes que a Carris travou para obter corredores reservados e poder aumentar a velocidade comercial, eram e são ainda hoje, enormes, além de se saber o que tem sido a política de estacionamento e circulação ao Transporte Individual, na lógica da especulação imobiliária, aquela preferência reverteu sempre no investimento e respectivo financiamento ao Transporte Individual.

Não foi só a construção dum eixo Norte<>Sul ou dos parques de estacionamento no centro da cidade (ex: parques de estacionamento no Martim Moniz e na Praça da Figueira, e hoje no Campo das Cebolas) ou do alargamento dos eixos rodoviários (ex: Avenida João Crisóstomo), também, foram as políticas de urbanização e de gestão do espaço público, como é o caso recente do PUA (Plano de Urbanização de Alcântara) contestado por centenas de moradores e em sessões de debate técnico em que ficou demonstrada as contradições das propostas de acessibilidade e de ordenamento urbano que a CML vai executar quando dá prioridade ao TI e na apropriação do espaço para negociar com os privados (ex: Hospital da CUF), ignorando soluções sustentáveis de transporte colectvo. Alcântara XXI será por certo o próximo passo da anexação dos terrenos de Santo Amaro, até onde se prevê uma ligação rodoviária entre a Rua Luis de Camões e a Avenida da Índia.

O TP e, em particular, o Transporte Colectivo tem sido desfavorecido por más políticas de transporte conduzidas quer ao nível da administração central quer ao nível local. Quando hoje se tem no discurso oficial que é preciso descarbonizar a sociedade e se tem doutro lado, dar cobertura aos “UBER” e “LIFTY” (transporte a pedido), ou seja, reconhecer que a excepção não confirma a regra – descarbonizar e colocar mais tráfego rodoviário na cidade???

Há, pois, um discurso oficial e oficioso e é pena que a CT não tenha sabido ter essa discussão com os trabalhadores da Carris, deixando-os vulneráveis a decisões públicas sem qualquer controlo democrático, de cidadania e de ecologia.

Ignorar a hipótese da Carris ser, juntamente com a CP suburbano, o Metropolitano e a Transtejo/Soflusa, um Operador Interno,  seguindo um modelo europeu com provas dadas, como a RATP, é mesmo ignorar a função e a responsabilidade estratégica coerente e integradora que tal Operador deve assumir no contexto actual. Não é só a questão de sustentabilidade da mobilidade da população, é muito mais que isso, é a criação de emprego qualificado e reverter uma política que tem sido de destruição destas empresas, pela venda de material circulante, de redução do serviço de oferta, da falta de conhecimento de como se deve planear e organizar uma rede de transporte colectivo e de ignorar os seus quadros técnicos, desequilibrando financeiramente todas estas empresas. A hipótese de Operador Interno é um desafio Estratégico e Operacional mas, é o único que oferece garantias a ter-se dum lado uma AOTU (Autoridade Organizadora do Transporte Urbano) como a AML e doutro um Operador Interno que saiba comportar-se à altura dos desafios da mobilidade sustentável através da afirmação dum Contrato Público. Mas, isso obrigará a uma reforma profunda do sector, em particular, reverter estruturas técnicas ao nível do Ministério responsável pela área do Transporte Público urbano e a um Transport Act, coisa que hoje nem sequer é discutida – ver texto em anexo.  

Como tal, hoje é um mau dia para a Carris. Uns recusam-se a ver o que está errado e outros preferem meter a cabeça de baixo do chão, como a avestruz. Como diz o Povo, “o pior cego, é aquele que não quer ver”. Criar um Operador Interno pode dar muito trabalho mas, é para isso que cá estamos. Com os meus 40 anos de Carris, lamento que essa não tenha sido a opção e depois de ter estado na semana passada em Strasbourg, numa conferência sobre “Eficácia de Redes de Transporte Urbano”, onde por sinal a CTS (Companhia de Transporte de Strasbourg” é da Comunidade Urbana enquanto Operador Interno estar em breve a inaugurar uma nova linha de eléctrico, esta com a particularidade de ser transfronteiriça (ligando Strasbourg a Kehl) e ver a prática de tarifa social única a ser aplicada com quociente familiar, só posso confirmar que em Portugal, a política neo-liberal de urbanismo e transporte está para ser combatida.


Carlos Gaivoto

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