segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Acidente Ferroviário do Comboio Internacional Vigo-Porto, na estação “O Porriño”

Algumas Considerações

Muito já se falou deste infeliz acidente ferroviário ocorrido na nossa vizinha Espanha com um comboio internacional explorado pelas duas empresas ferroviárias estatais, portuguesa e espanhola. Não posso deixar de registar as minhas sinceras condolências as todos aqueles diretamente ou indiretamente envolvidos neste acidente ferroviário: passageiros, pessoal de ambas as empresas, familiares, enfim todos aqueles de uma maneira ou de outra se encontram envolvidos neste drama.

Não me compete deixar neste espaço mais uma conjetura sobre as possíveis causas do acidente, deixando a sua conclusão para as diversas comissões de inquérito, compostas por técnicos especializados, na esperança que as conclusões sejam credíveis, devidamente e atempadamente divulgadas e que sirvam para se efetuarem as devidas correções aos sistemas/procedimentos de modo a evitar uma repetição de nova tragédia.

É visível o grande impacto que um acidente ferroviário tem, na comunicação social. O transporte ferroviário pela sua dimensão tem um grande impacto mediático que normalmente ultrapassa até o de acidentes aéreos caracterizados por terem maiores repercussões nas vidas humanas (com taxas de sobrevivência quase nulas). É inegável que o caminho-de-ferro se encontra debaixo de constante observação mediática, mesmo em situações de pequenas ocorrências como atropelamentos individuais, acidentes de passagens de nível, outros.

Observando o acidente em causa, não posso deixar de salientar o excelente comportamento da composição envolvida na ocorrência. Apesar de ser um material circulante com cerca de 35 anos de idade, claramente em fim de vida útil num contexto europeu, esta composição pertencente à série RENFE 592 designada por “Camelos”, teve um excelente comportamento em cenário de catástrofe. Não duvidamos a grande violência que terá sido o impacto em velocidade no encontro da passagem superior rodoviária (quase objeto indeformável). A unidade motora piloto absorveu toda a energia na cabeceira (área frontal) mantendo a restante caixa, uma parcial integridade estrutural. Os engates intermédios da unidade, também cumpriram a sua função em cenário de excesso, absorvendo toda a energia cinética do impacto, não se verificando cenários no material de: “telescopagem”, “encavalitamento” de carruagens, o fenómeno de “zig-zag” ou tombamento das caixas. Verifica-se mesmo que as duas restantes carruagens têm alguns eixos carrilados mantendo-se a restante composição relativamente alinhada e direita. Não esquecer que quando do impacto da cabeceira na ponte, toda a composição se encontrava em posição desalinhada por se encontrar em processo de mudança de via. Este excelente comportamento do comboio numa situação de catástrofe permitiu a sobrevivência de quase todos os passageiros, que apesar dos traumatismos poderão regressar às suas casas.


Por fim não posso deixar de referir a posição de “parente pobre” em que os nossos caminhos-de-ferro cada vez estão mais relegados, devido ao desinvestimento na ferrovia portuguesa. Esta composição com 35 anos alugada à RENFE constituiu um verdadeiro “up-grade” para as relações regionais não eletrificadas exploradas pela CP, contudo no universo ferroviário europeu, espanhol ou mesmo galego, esta composição encontra-se deslocada pela sua longevidade, desatualização tecnológica, conforto e apresentação visual.


A piorar esta situação é o estado exterior (apresentação visual), quanto a pintura da composição, conforme fotografias que apresentamos em anexo, e que por acaso se encontram até livre de grafitis. Sem darmos conta este comboio apresenta uma importante imagem do nosso país no exterior, mesmo que só efetue um trajeto pequeno em território espanhol, a provar está o grande número de nacionalidades dos passageiros envolvidos. Assim não me espanta que entre as muitas declarações que passaram nas televisões nacionais, internacionais e regionais; pelos diversos comentadores principalmente do país vizinho, o comboio português, o parente-pobre, poderia ser a natural causa da ocorrência, quando as causas do acidente ainda se encontram longe de ser conhecidas.

Fotografias retiradas da internet, site:
http://www.lavozdegalicia.es/

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