Acidente Ferroviário do Comboio Internacional Vigo-Porto, na estação “O
Porriño”
Algumas Considerações
Muito já se falou deste infeliz
acidente ferroviário ocorrido na nossa vizinha Espanha com um comboio
internacional explorado pelas duas empresas ferroviárias estatais, portuguesa e
espanhola. Não posso deixar de registar as minhas sinceras condolências as
todos aqueles diretamente ou indiretamente envolvidos neste acidente
ferroviário: passageiros, pessoal de ambas as empresas, familiares, enfim todos
aqueles de uma maneira ou de outra se encontram envolvidos neste drama.
Não me compete deixar neste
espaço mais uma conjetura sobre as possíveis causas do acidente, deixando a sua
conclusão para as diversas comissões de inquérito, compostas por técnicos
especializados, na esperança que as conclusões sejam credíveis, devidamente e
atempadamente divulgadas e que sirvam para se efetuarem as devidas correções aos
sistemas/procedimentos de modo a evitar uma repetição de nova tragédia.
É visível o grande impacto que um
acidente ferroviário tem, na comunicação social. O
transporte ferroviário pela sua dimensão tem um grande impacto mediático que
normalmente ultrapassa até o de acidentes aéreos caracterizados por terem maiores repercussões
nas vidas humanas (com taxas de sobrevivência quase nulas). É inegável que o caminho-de-ferro
se encontra debaixo de constante observação mediática, mesmo em situações de
pequenas ocorrências como atropelamentos individuais, acidentes de passagens de
nível, outros.
Observando o acidente em causa, não posso deixar de salientar o excelente comportamento da composição envolvida na ocorrência. Apesar
de ser um material circulante com cerca de 35 anos de idade, claramente em fim
de vida útil num contexto europeu, esta composição pertencente à série RENFE
592 designada por “Camelos”, teve um excelente comportamento em cenário de
catástrofe. Não duvidamos a grande violência que terá sido o impacto em
velocidade no encontro da passagem superior rodoviária (quase objeto
indeformável). A unidade motora piloto absorveu toda a energia na cabeceira (área
frontal) mantendo a restante caixa, uma parcial integridade estrutural. Os engates
intermédios da unidade, também cumpriram a sua função em cenário de excesso, absorvendo toda a energia cinética do impacto, não se verificando cenários no
material de: “telescopagem”, “encavalitamento” de carruagens, o fenómeno de “zig-zag”
ou tombamento das caixas. Verifica-se mesmo que as duas restantes carruagens
têm alguns eixos carrilados mantendo-se a restante composição relativamente
alinhada e direita. Não esquecer que quando do impacto da cabeceira na ponte,
toda a composição se encontrava em posição desalinhada por se encontrar em processo de mudança de via. Este
excelente comportamento do comboio numa situação de catástrofe permitiu a
sobrevivência de quase todos os passageiros, que apesar dos traumatismos
poderão regressar às suas casas.
Por fim não posso deixar de
referir a posição de “parente pobre” em que os nossos caminhos-de-ferro cada
vez estão mais relegados, devido ao desinvestimento na ferrovia portuguesa. Esta
composição com 35 anos alugada à RENFE constituiu um verdadeiro “up-grade” para
as relações regionais não eletrificadas exploradas pela CP, contudo no universo
ferroviário europeu, espanhol ou mesmo galego, esta composição encontra-se
deslocada pela sua longevidade, desatualização tecnológica, conforto e apresentação
visual.
A piorar esta situação é o estado
exterior (apresentação visual), quanto a pintura da composição, conforme
fotografias que apresentamos em anexo, e que por acaso se encontram até livre de grafitis. Sem darmos conta este comboio apresenta uma importante
imagem do nosso país no exterior, mesmo que só efetue um trajeto pequeno em
território espanhol, a provar está o grande número de nacionalidades dos
passageiros envolvidos. Assim não me espanta que entre as muitas declarações
que passaram nas televisões nacionais, internacionais e regionais; pelos
diversos comentadores principalmente do país vizinho, o comboio português, o parente-pobre, poderia ser a natural causa da ocorrência, quando as causas do
acidente ainda se encontram longe de ser conhecidas.
Fotografias retiradas da internet, site:
http://www.lavozdegalicia.es/
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